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Nas suas vertentes teórica e empírica, a pesquisa sobre a influência da televisão evoluiu de uma perspectiva mais unilateral, em que os media eram pensados focando o seu efeito directo sobre o público, para análises mais complexas, onde a dimensão cognitiva da recepção das mensagens foi, progressivamente, valorizada. Neste contexto, surgiu o interesse em torno de questões como as expectativas dos espectadores, a construção de significados pelas audiências ou a contínua interacção do público com os media, que conduziu à delimitação de alguns factores pessoais, televisivos e contextuais, potenciais intervenientes na relação entre a violência televisiva e o comportamento agressivo. Tendo em consideração esta perspectiva, procedemos à realização de um estudo com 820 alunos dos 4º, 6º e 8º anos do ensino básico do distrito de Coimbra, orientado por dois grandes objectivos: caracterizar e compreender os seus hábitos televisivos e analisar o papel mediador de algumas variáveis de natureza perceptual e cognitiva - (1) a identificação com heróis televisivos violentos, (2) o prazer em ver violência na televisão e (3) o realismo percebido na violência televisiva - na relação entre exposição à violência televisiva e agressão física. A perspectiva subjacente às análises efectuadas é a de que a influência da violência televisiva sobre a agressão dos espectadores poderá depender da forma como estes percebem os conteúdos observados. Ou seja, estes três factores constituem os mecanismos psicológicos pelos quais a exposição à violência na televisão influencia a agressão posterior das crianças e dos adolescentes. A análise dos resultados obtidos, mediante estatísticas de carácter descritivo, permitiu concluir que algumas das condições que propiciam uma percepção da violência televisiva menos potenciadora da sua influência nem sempre estão reunidas, tal como indiciam o nível de mediação parental, o tempo dedicado à TV pelos participantes, bem como o número e o local ocupado pelos televisores em casa destes. Os resultados obtidos recorrendo à path analysis sugerem que a exposição à violência televisiva é uma variável preditora da agressão física, mas não se constitui como a única variável, nem a mais importante, em termos de capacidade explicativa. No entanto, mesmo quando controlados outros factores, como o sexo ou as características de personalidade, a exposição à violência televisiva continua a deter alguma capacidade explicativa da variância na agressão. O seu poder preditivo é, no entanto, mediado pela forma como os participantes percepcionam a violência televisiva. Assim, são as crianças e os adolescentes que mais prazer têm em ver violência na televisão, que se identificam com heróis televisivos mais violentos e que percebem a violência televisiva como mais semelhante à realidade aqueles que surgem como mais susceptíveis à influência da violência televisiva. O nosso interesse em conhecer as variáveis mediadoras resulta do facto de que estas constituem, normalmente, uma parte crucial na compreensão de como um processo causal ocorre, oferecendo, desta forma, pistas sobre possibilidades de intervenção. Assim, de acordo com os resultados obtidos, delineámos algumas sugestões relativamente ao papel da família e da escola, na promoção de uma relação com a televisão que se revele promotora do desenvolvimento das crianças e dos jovens.
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Published on 30/09/05
Accepted on 30/09/05
Submitted on 30/09/05
Volume 13, Issue 2, 2005
DOI: 10.3916/25747
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